Amigos e familiares se unem em homenagem à eterna voz do Brasil

Imagem / Instagram da eterna preta Gil 

Na noite desta segunda-feira, 28 de julho de 2025, o bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, foi palco de uma emoção indizível. A Paróquia Santa Mônica abriu suas portas para a missa de sétimo dia de Preta Gil, uma cerimônia que reuniu amigos, familiares e admiradores para prestar uma última homenagem à cantora, falecida no dia 20 de julho aos 50 anos. A artista, que lutou bravamente contra um câncer colorretal diagnosticado em 2023, deixou um legado que transcende a música, marcando gerações com sua energia, ativismo e amor incondicional. Sob um céu carregado de nostalgia, a igreja se transformou em um santuário de memórias, onde cada olhar e cada oração refletiam a grandeza de uma vida interrompida cedo demais. Mas o que torna esse momento tão especial, e como a comunidade se despediu de uma das vozes mais vibrantes do Brasil? Vamos contar essa história.

A missa, iniciada às 19h, foi conduzida com reverência pelo frei Didier Esperidião Neto, vice-diretor do Colégio Santo Agostinho e administrador paroquial. O ambiente, iluminado por velas e enfeitado com flores brancas, trouxe um clima de introspecção e celebração. Entre os presentes, destacaram-se figuras como Gilberto Gil, pai de Preta, visivelmente emocionado, ao lado de Flora Gil, sua esposa, e Francisco Gil, filho único da cantora. A presença de artistas como Fernanda Montenegro, Carolina Dieckmann e Cissa Guimarães reforçou o peso cultural do evento, reunindo nomes que compartilharam palco e vida com a artista. A cerimônia também foi aberta ao público, permitindo que fãs anônimos se juntassem ao luto coletivo, carregando cartazes e cantando trechos de sucessos como “Sinais de Fogo” e “Fullgás”.

Preta Gil, filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, enfrentou um longo combate contra a doença. Diagnosticada em janeiro de 2023, ela passou por cirurgias complexas, incluindo uma de 21 horas em dezembro de 2024, que removeu partes do sistema digestivo e linfático. Após uma breve remissão no final de 2023, um novo diagnóstico em agosto do ano passado a levou a Nova York, onde buscou tratamentos experimentais. Foi lá, cercada por entes queridos, que ela faleceu, deixando um vazio na cultura brasileira. O velório, realizado na sexta-feira (25) no Theatro Municipal, reuniu milhares de pessoas, seguido por um cortejo fúnebre que percorreu o recém-batizado “Circuito de Carnaval de Rua Preta Gil”, uma homenagem ao seu icônico bloco carnavalesco.

Durante a missa, as palavras de conforto do frei Didier ecoaram entre os presentes, destacando o legado de Preta como embaixadora do amor e da diversidade. Carolina Dieckmann, que esteve ao lado da amiga nos últimos dias em Nova York, compartilhou uma mensagem comovente. “Preta me ensinou a viver com intensidade. Estar com ela no fim foi um presente, um momento de dizer o quanto a amava”, disse a atriz, com lágrimas nos olhos. Gilberto Gil, por sua vez, refletiu sobre a perda em uma breve fala à imprensa antes da cerimônia. “Ela plantou um amor que agora floresce em todos nós. Essa missa é um consolo, uma forma de manter viva a memória dela”, declarou o ícone da MPB, cuja voz embargada emocionou a todos.

A escolha da Paróquia Santa Mônica não foi aleatória. Foi lá que a família celebrou a missa de sétimo dia de Pedro Gil, irmão de Preta, falecido em 1990. A coincidência trouxe um simbolismo profundo, conectando gerações da família Gil em um ciclo de despedidas e renovações. A cerimônia incluiu hinos religiosos e momentos de silêncio, interrompidos apenas pelo som de “Drão”, canção dedicada à mãe de Preta, Sandra Gadelha, que ressoou como um tributo à ancestralidade da artista. Fora da igreja, fãs erguiam velas e cantavam, transformando a rua em uma extensão da celebração.

O impacto de Preta vai além da música. Como ativista, ela defendeu a negritude, o empoderamento feminino e os direitos LGBTQIA+, deixando um exemplo que inspira até hoje. Sua morte gerou uma onda de homenagens, incluindo uma missa anterior no Santuário Santa Dulce dos Pobres, em Salvador, no sábado (26), onde ela era embaixadora das Obras Sociais Irmã Dulce. A conexão com a Bahia, terra natal de Gilberto Gil, reforçou o alcance nacional de seu legado. No Rio, a missa de sétimo dia foi mais um capítulo dessa despedida coletiva, unindo pessoas de diferentes origens em um mesmo propósito: celebrar uma vida que brilhou intensamente.

Para Francisco Gil, a presença da comunidade foi um alento. “Sinto a Preta em cada abraço que recebo. Ela criou um laço com tanta gente, e isso me dá força para seguir”, afirmou o jovem músico, que herdou o talento da mãe. A cremação, realizada no Cemitério da Penitência após o velório, seguiu o desejo de Preta, que preferiu deixar cinzas em vez de um túmulo físico. Esse ato reflete sua essência livre, sempre em movimento, como os blocos de carnaval que ela liderou com paixão.

Enquanto a missa se encerrava, o som de palmas e cânticos ecoava pelas ruas do Leblon. A data de 28 de julho, curiosamente próxima ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), acrescentou um significado especial, ecoando a luta de Preta contra o racismo e a favor da inclusão. Amigos como Malu Mader e Cris Vianna compartilharam histórias de bastidores, relembrando a alegria contagiante da cantora. “Ela transformava qualquer lugar em festa”, disse Malu, sorrindo entre lágrimas.

O futuro reserva mais homenagens. Uma missa de um mês está planejada, e o “Circuito Preta Gil” deve se tornar um ponto fixo no calendário cultural do Rio. Para a família e os fãs, a missa de sétimo dia foi mais do que uma despedida: foi uma afirmação de que o espírito de Preta Gil continuará vivo, pulsando nas ruas, nas músicas e nos corações de quem a amou. Em um país onde a cultura é resistência, sua partida reforça a ideia de que o legado de uma artista pode ser eterno, mesmo diante da dor da perda.